quarta-feira, 25 de junho de 2008

Já Vai Tarde, Eurico

Favorito à presidência do Vasco, Roberto Dinamite pode representar uma nova era para o time de São Januário.


O Vasco da Gama, por tradição, sempre foi comandado por “caciques”. O clube, fundado em 1898 por um grupo de remadores, é considerado o segundo maior clube do Rio de Janeiro, tanto no que diz respeito aos títulos conquistados quanto ao numero de torcedores, contados sempre de forma absolutamente informal, mas que quase sempre trazem um retrato da importância do clube nacionalmente.


Desde 1983, o Vasco da Gama tem visto o time de futebol nas mãos de gente que nem sempre acredita que a democracia é o melhor sistema de gerenciamento de um clube. Antonio Soares Calçada ficou 17 anos a frente do Vasco da Gama, muitas vezes contestado justamente pela oposição, outras vezes ganhando eleições honestamente, já que foi durante seu mandato que o time conquistou boa parte de seus principais títulos (6 cariocas, 3 brasileiros e uma Libertadores). Eurico Miranda, famoso pela sua má vontade, má educação, e generosidade (no que diz respeito ao Club de Regatas Vasco Da Gama), foi indicado pelo ex-presidente Calçada, já que formava sua chapa como vice-presidente na época. Mesmo como vice, com sua personalidade marcante, Eurico já se sentia a voz do Vasco, as vezes até tomando decisões que cabia somente à presidência. Sendo assim, era mais ou menos visível que Eurico aspirava à presidência do clube. E foi exatamente o que aconteceu em 2000, quando houve eleição para a cadeira de cartola, em que Antonio Calçada “gentilmente” cedeu ao seu amigo de longa data, o Sr. Eurico Ângelo de Oliveira Miranda.


Sendo assim, o ex-presidente simplesmente passou as chaves da gaveta para outra pessoa, porém pouco realmente mudava dentro do clube, já que a oposição, sempre presente dentro do Vasco, não conseguia angariar votos suficientes para derrotar a chapa da situação. Somando-se todos os anos em que o mesmo partido está no comando do clube, já se vão 25 anos, lembrando que Antonio Soares Calçada elegeu-se pela primeira vez em 1983, quando o time ainda era campeão brasileiro uma única vez, no ano de 1974. Tal fato é praticamente inimaginável se levarmos em conta que um time de futebol que se preze tem de organizar eleições regularmente, ouvir a oposição e, de tempos em tempos, sua gestão tem de ser avaliada, a fim de saber se o saldo da presidência é positivo ou não.


Claro que a gestão Antonio / Eurico trouxe inúmeros ganhos ao Vasco Da Gama: títulos, investimentos, jogadores consagrados, enfim. O que não podemos deixar de ressaltar é que, no balanço geral (Balança Brasil!), a administração de Eurico Miranda foi nefasta ao Vasco. O clube deve dinheiro pra todo mundo, vou até citar alguns números para se ter uma idéia. Globo- 20 milhões, IPTU atrasado– 5,5 milhões, dividas trabalhistas- 40 milhões. O Romário é o atleta mais lesado pelo Vasco. Pelas suas contas, afirma que o clube chegou a dever cerca de 12 milhões de reais a ele. (bom, pelas suas contas ele tem 1000 gols, então realmente é difícil afirmar a veracidade dos números). O fato é que com o caixa quebrado fica realmente difícil trabalhar.


Tão difícil que, como pudemos acompanhar na mídia esta semana, o maior ídolo da historia do Vasco da Gama, o ex-atacante e maior goleador da história do time, Roberto Dinamite, resolveu concorrer à presidência. Diferentemente do que se imagina, o Vasco sim, tem eleições regulares para a presidência, porém Eurico é tão influente que alicia membros do conselho do Vasco a fim de arrecadar votos para si, por meio de subornos, trafico de influencias, já que foi deputado federal de 1995 a 2001, quando teve seu mandato cassado sob a acusação de evasão de divisas (transferir dinheiro, provavelmente desviado dos cofres do Vasco, para fora do país).


A grande questão desta vez, porém, é que não só o Vasco, mas o próprio Eurico está quebrado, o que põe em cheque sua permanência no cargo. Os próprios conselheiros da situação agora se perguntam se realmente vale a pena continuar bancando uma figura como a do atual presidente, já que, ultimamente, o time do Vasco tem perdido título atrás de titulo para seus rivais. (o ultimo titulo carioca foi em 2003). Com exceção (valeu Lucas) de 1998, ano do centenário do clube e coincidência ou não, ano em que o Vasco conquistou sua única Libertadores (perdeu em Tóquio para o Real), os últimos anos para o clube foram péssimos. Nada mais justo do que um sentimento forte de dever de renovação.


Roberto Dinamite que, aliás, foi trazido de volta pelo próprio Eurico do Barcelona em 1980, representa uma nova fase para o time do Vasco. O grande feito que Roberto já conseguiu foi obter uma vitória massacrante sobre a chapa de Eurico, 827 a 45, derrota histórica. É obvio que Eurico não ia deixar por isso mesmo. Entrou com recurso, claro, quis anular a eleição, diz que a votação foi marcada por fraudes, irregularidades e sujeiras, lembra até sua gestão...


A eleição para presidente do Vasco não é direta. É semelhante à eleição americana, em que o candidato que ganhar nas urnas leva mais representantes ao conselho deliberativo, e estes sim, efetuam a escolha pelo novo presidente. Além disso, há 150 conselheiros natos do clube, dinossauros que estão no clube há séculos e não são exatamente a favor de mudanças, mas que na atual situação do Vasco, provavelmente votarão Dinamite.


O fato é que parece que os tempos de Eurico Miranda a frente do Vasco estão acabando. Nesta semana então, o Vasco vive seu inferno astral, principalmente depois da derrota por 2 a 0 para o Palmeiras dentro de casa, com um golaço do atacante Kléber. O tal inferno astral parece ter afetado mesmo Eurico Miranda, que recentemente declarou que não concorrerá no pleito de sexta-feira, entregando assim a candidatura a Amadeu Pinto da Rocha, que enfrentará o virtual campeão Roberto Dinamite. Mudanças são sempre necessárias em qualquer clube, haja vista que o São Paulo, maior campeão dos últimos tempos, tem eleições para presidente a cada dois anos e, mesmo que haja pequenos conflitos dentro do clube, a oposição tem voz ativa e espaço para debater suas propostas, e o mais importante, não há qualquer manobra para privilegiar qualquer um dos lados.

Novos tempos em São Januário? É provável, mas o que podemos ter certeza é que pelo menos será um alívio não ter de presenciar cenas constrangedoras envolvendo o arrogante (ex) presidente Eurico Miranda.

2 comentários:

Murilo Borges disse...

Apesar de longa, boa coluna parça! =]

abraço

Maurício Batista Destri disse...

como assim "apesar"?

dexa de ser preguiçoso rapá

abraço